quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Esse governador em exercício é real

Esse governador em exercício é real


Por Leany Lemos, secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão do DF*

E se o Distrito Federal tivesse um governador honesto, ético e avesso a demagogias…

E se esse governador enfrentasse greves de 32 categorias e a fúria de sindicatos ao reduzir privilégios e benesses individuais, em nome do bem coletivo, não implementando aumentos dados por governos fiscalmente irresponsáveis, aumentos que quebrariam a cidade…

E se impedisse que o caos administrativo e social se instalasse – como governantes em outros estados e municípios permitiram –, ao assumir o ethos da austeridade, cortando 4 mil cargos, reduzindo secretarias, implementando PDVs, diminuindo frotas e reduzindo – em até 80% – despesas caríssimas a governos, como publicidade…

E se o Distrito Federal tivesse um governador honesto, ético e avesso a demagogias...

E se esse governador enfrentasse inúmeros interesses em contratos corporativos, reduzisse seus valores e fizesse licitações que baixassem o custo e aumentassem a eficiência do Estado… 

E se o fizesse sempre sob a rule of law, ou o império da lei, o que, paradoxalmente, é raro na política brasileira…
E, ainda, mesmo rearrumando as finanças públicas e obedecendo ao imperativo de redução de despesas, encontrasse formas de administrar o orçamento público de forma a reduzir as despesas discricionárias e o incrementar em áreas finalísticas e de interesse da sociedade…

E se houvesse um governador capaz de aumentar gastos sociais numa época de ajuste fiscal…

E se houvesse um governador capaz de aumentar gastos sociais numa época de ajuste fiscal…

Que universalizasse a demanda de ensino infantil de 4 e 5 anos, como está determinado pelos planos nacional e distrital de educação, e que inaugurasse uma escola por mês, em tempos de crise e recessão…

Que ampliasse o programa Saúde na Família de 30% para 55% de cobertura, privilegiando a atenção básica, e, ao mesmo tempo, construindo um hospital infanto-juvenil de mais de 220 leitos…

E se esse governador desse atenção especial à cultura, à ciência e tecnologia e inovação, criando um ecossistema favorável ao florescimento da economia criativa, com direito à Campus Party, política para startups, centenas de editais para pesquisa, fomento à cultura e à formação de uma economia do Século XXI…

E se houvesse um governador que conseguisse – ao aprovar uma lei federal que muitos tentaram, mas nenhum conseguiu – tirar o DF da posição de refém da guerra fiscal com estados vizinhos…

E se esse governador patrocinasse um programa, o Criança Candanga, com diversas ações voltadas para a recuperação da infância no espaço público…

E se esse governador promovesse um Pacto pela Vida que reduzisse as mortes às taxas mais baixas das últimas duas décadas, enquanto outros estados pioram consistentemente seus indicadores de mortes violentas…

E se houvesse um governador hipotético, em uma cidade moderna e modernista, mas cujos resíduos sólidos se encontram jogados a céu aberto – formando um maciço de mais de 40 metros, o qual contamina o solo e o subsolo, e onde as pessoas vivem de maneira indigna –, disposto a promover um salto civilizatório, que construísse um aterro sanitário e, de fato, fechasse o segundo maior lixão do mundo…

E se houvesse um governador que, em vez e estádios e obras faraônicas, se preocupasse com a infraestrutura de áreas vulneráveis, como Sol Nascente, Pôr do Sol, Buritizinho, Vicente Pires…

E se houvesse um governador que priorizasse recursos em obras de adutoras e estações de tratamento de água, depois de quase 20 anos sem investimentos na área, minorando efeitos de uma crise hídrica sem precedentes na História da cidade…

E se houvesse um governador preocupado com a legalidade do território e com sua ocupação regular, que combatesse fortemente a grilagem e a rapinagem do solo, e devolvesse a sua cidade, para um usufruto feliz, uma extensa Orla lacustre ocupada privada e ilegalmente durante décadas…

E se esse mesmo governador promovesse a legalização habitacional e entregasse mais de 40 mil escrituras em menos de 3 anos, trazendo segurança jurídica a milhares de pessoas que habitavam mas não possuíam seus espaços familiares…

E se esse mesmo governador promovesse a legalização habitacional...

E se houvesse um governador que promovesse investimentos em ciclovias, bikes, calçadas, e ainda pusesse fim à farra dos cartões de passes livres – ilegalmente usados e abusados –, introduzisse biometria fácil, implementasse o Bilhete Único, colocasse nas ruas ônibus de energia limpa, modernizasse o metrô…

E se esse governador inaugurasse a primeira estação de energia fotovoltaica da América Latina…

E se houvesse um governador que defendesse – transversalmente – as políticas conectadas a direitos fundamentais de gênero, raça, liberdade religiosa e de expressão, sem tolerância com a intolerância…

E se houvesse um governador que modernizasse a gestão, introduzindo o DF na era digital, ampliando sua infraestrutura de TI, enquanto implementasse um Sistema Eletrônico de Informações, que garantisse segurança da informação, transparência, celeridade nas decisões internas, com impactos decisivos na relação com sociedade…

Um governador que buscasse a profissionalização da gestão, e capacitasse em dobro seus servidores, para que melhor pudessem servir…

Um governador que construísse em bases republicanas suas relações com os demais poderes e que promovesse a transparência pública como valor estruturante de toda sua administração, ao lado de valores como austeridade, honestidade, trabalho árduo, foco no coletivo.

E se esse governador estivesse em exercício e fosse real…

O problema das fantasias é que elas transitam, por definição, sempre no espaço do imaginário. Na luta entre o real e o ideal, o primeiro sempre há de perder.

Ora, na imaginação, podemos tudo. O mundo real impõe limitações vivas, mas é nele que habitamos, fazemos escolhas e nos concretizamos como projeto humano. Não há falhas no tipo ideal (usando uma categoria weberiana), mas elas são inevitáveis no mundo real.

Falhas, percalços, frustrações não nos podem cegar para o fato de que a realidade pode ser bela e boa em si. Mesmo que não traduza todo o nosso desejo.

O real pode, na verdade, ser muito melhor do que o pintamos, se o olharmos sem o véu das ideias pré-concebidas e com olhos de ver. E sem medo de gostarmos dele.

*Artigo publicado originalmente no site Metrópoles

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